Melancolia pré-eleições

Eu lembro bem do dia que o Trump venceu nos EUA. Acordei e li uma mensagem da amiga coreana, que já vivia a notícia há algumas horas. Fiquei muito triste e escrevi que o que mais doía não era bem ter um Trump como presidente de uma nação daquele tamanho, mas saber que o tipo de retrocesso que ele representava tinha o apoio de tanta gente.

É mais ou menos isso que a gente vive hoje. 32% para aquele cara.

Vou tentar relevar. Desses 32, acho que só uns 20 são motivados única e exclusivamente pelo discurso de ódio, por simpatizarem mesmo com o que ele pensa sobre mulheres, negros, gays e/ou índios. Os outros 12 inventam uma desculpa. No final, apoiam esse candidato porque o discurso de ódio que vem junto não os atinge diretamente ou não os comove o bastante.

Sofro MUITO com a falta de empatia desses 12. São aqueles parentes e amigos que te amam, porém votam (ou votariam) em alguém que promove o ódio contra você. Já ouvi de muita gente “mas como presidente, ele não tem o poder de mudar isso (direitos da constituição)”. Esquecem que (no meu caso pessoal) os LGBTs não têm muitos direitos conquistados e o fortalecimento de uma posição contra nossos direitos significa SIM perda real.

Tem gente que fala que ele vem para mudar tudo que está aí. O próprio candidato propõe o “desaparelhamento” do estado. Acredito que o pessoal que acredita nisso prefere ignorar que ele está na estrutura do governo há 27 anos, com um rendimento pífio que inclui a proposta de lei para proibir o aborto em caso de estupro (quem se importa?).  Também defendeu os próprios privilégios, utilizou de benefícios que teoricamente ele não teria direito, misteriosamente adquiriu imóveis a um valor muito abaixo do mercado, usou verba de assessores para empregados pessoais, que cuidam do cachorro dele. Desaparelhamento e mudança “de tudo que está aí” pra quem?

Tem gente que gosta das propostas liberais do candidato –  vamos de Amoedo, vamos de Meirelles, gente. Da área econômica, ele mesmo fala que não sabe muita coisa, por isso que se cerca de quem sabe – e, no caso, quem sabe propõe a aplicação de 20% de imposto de renda pra todo mundo (=pobres, que hoje são isentos, vão pagar mais, a classe média alta e ricos, que pagam 27%, vão pagar menos) e a volta de uma CPMF, que não consegui entender bem a lógica até o momento. O vice, por sua vez, tagarela sobre acabar com 13o e critica o 1/3 de férias. É claro que o candidato nega, mas afinal, quem sabe sobre economia mesmo?

Isso tudo me dá um tanto de melancolia. Fui no protesto de sábado, um pouco com pé atrás – acredito naquela coisa do “Segredo” que, quando você impõe uma negativa sobre algo, você alimenta esse algo. Então falar que é “contra” alguma coisa, só empodera essa alguma coisa. Mas não resisti a um movimento encabeçado por mulheres. Seja qual for o resultado das eleições, espero que o movimento político de mulheres cresça.

Falando nisso, tenho apenas um critério para o primeiro turno: votarei apenas em candidatas mulheres. Isso significa que votarei na Marina (secretamente torcendo para uma reviravolta colocar o Ciro no segundo turno). Quanto ao PT, tenho muita raiva da irresponsabilidade que foi a candidatura do Lula e, possivelmente, colocarei na conta do partido uma possível eleição daquele cara. No segundo turno, votarei em quem quer que esteja contra a coisa. Serei Alkmin desde criancinha se preciso for.

Como mulher e lésbica: espero que, com o possível governo do coiso, meu casamento continue reconhecido pelo estado, espero que não sinta (ainda mais) medo de demonstrar carinho com a minha esposa na rua, espero que ainda possa adotar uma criança e/ou registrar um filho com o nome das duas mães. Nem ligo se perder o 13o.

Algumas observações póstumas:

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